Boa semana #235 – A doce ilusão de calçar os sapatos do outro!
Calçar os sapatos do outro! Quem nunca ouviu esta expressão? Tanto se fala em olhar para as coisas através do lugar da outra pessoa, saber estar no lugar dela, que não somos o centro do universo, ver o mundo através da lente dos outros… enfim, um sem número de expressões e tentativas de lições de moral, mas será que conseguimos mesmo calçar os sapatos do outro ou é apenas uma doce ilusão?
No outro dia estava a ter uma conversa com uma pessoa conhecida e estava a ser realmente frustrante. Eu estava a dizer uma coisa e ela estava a ouvir outra completamente diferente do que eu estava dizer! Eu estava a ser literal e direta e essa pessoa estava a interpretar o que eu estava a dizer através das lentes dela, a atribuir outros significados com base nas suas próprias vivências e experiências.
Eu não estava mesmo de todo a conseguir passar a mensagem, fui clara e disse: não é isso que estou a dizer! E essa pessoa continuou: pois, eu percebo o que estás a querer dizer mas… e continuou com o discurso interpretativo do que eu tinha dito!
Então eu limitei-me a dizer que cada um de nós agia e se relacionava com o outro com base naquilo que foram as nossas próprias vivências e com base naquilo que são os nossos sentimentos, e aí veio a sua doce ilusão!
Comecei a ouvir o discurso que não é bem assim, que não somos o centro do universo e que temos que saber nos colocar no lugar do outro! Entretanto a nossa conversa foi interrompida e eu fiquei a pensar no assunto e dei-me conta da ilusão em que essa pessoa vive e em como está de tal forma formatada para analisar tudo o que lhe dizem que nem se dá conta de que o faz!
Eu penso que nós nunca podemos verdadeiramente calçar os sapatos dos outros, sentir as dores dos outros, mesmo que até tenhamos passado por uma experiência de vida semelhante, isto porque todo o resto é diferente. E mesmo duas pessoas a viver a mesma experiência não a vivem da mesma maneira!
A nossa genética tem peso no que nós somos, as experiências por que passamos desde que estamos na barriga da mãe contam para o que nós somos, a forma como lidamos com a vida e cada pessoa é única, é impossível sabermos verdadeiramente como o outro sente e vê as coisas.
E para mim, para sermos verdadeiramente empáticos com o outro, temos que ter uma clara noção disto. O que pode ajudar imenso nas nossas relações inter pessoais do dia-a-dia. Não tentemos interpretar o que o outro diz através das nossas lentes, vamos apenas ouvir sem atribuir outros significados, sem achar que o outro quis dizer algo para além do que disse.
Vamos apenas estar lá para o outro sem tentar passar para ele as lições que aprendemos, claro que há tempo para tudo. Mas ser empático é estar lá para apenas ouvir, para apenas oferecer o ombro sem tentar ensinar algo, para rir e compartilhar a felicidades sem mais nada. Porque não podemos verdadeiramente calçar os sapatos do outro, isso é apenas uma doce ilusão!
Não é uma tarefa fácil, eu própria a estou a aprender e interiorizar, mas na maternidade isto é tão importante. Nós não podemos calçar os sapatos do nosso filho de dois anos que está a espernear no chão do supermercado, mas podemos estar lá para ouvir em vez de tentar impor a nossa vontade!
Claro que também tem que haver tempo para ensinar, passar valores e lições vida mas há momentos para tudo!
Vamos deixar de lado a doce ilusão de calçar os sapatos do outro e aprender apenas a estar lá para o outro!